Foto: Vinicius Becker (Diário)
O comércio de Santa Maria chega ao fim de 2025 com um balanço marcado por crescimento no valor médio das compras, maior seletividade do consumidor e desafios relacionados ao cenário econômico e à adaptação do varejo às novas formas de consumo. Levantamentos da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e a avaliação do Sindicato dos Lojistas do Comércio de Santa Maria (Sindilojas) indicam que, apesar de um primeiro semestre mais lento, o ano terminou com desempenho considerado positivo, especialmente no segundo semestre e nas principais datas do calendário varejista.
+ Receba as principais notícias de Santa Maria e região no seu WhatsApp
De acordo com a CDL Santa Maria, o dado que melhor sintetiza o comportamento do consumidor em 2025 é o aumento expressivo do ticket médio, especialmente no Natal. A pesquisa de intenção de compras apontou que, neste ano, o valor médio por presente chegou a R$ 187,63, um crescimento significativo em relação a 2024, quando o ticket médio foi de R$ 113,16. Para a presidente da entidade, Maria Elizabeth, o avanço indica um consumo mais qualificado e maior confiança por parte da população.
Segundo a presidente da CDL, Maria Elizabeth Flores, o crescimento do ticket médio reflete não apenas a disposição de gastar mais, mas também uma escolha mais criteriosa por produtos e pelo local de compra. A pesquisa da CDL mostra que 75% dos entrevistados declararam preferência pelo comércio físico local, destacando preço, qualidade e atendimento como os principais fatores decisivos. Para a dirigente, esse comportamento reforça a importância da economia de proximidade e do papel do comércio na geração de empregos e na circulação de renda na cidade.
– Esses são os nossos diferenciais apontados pelos consumidores entrevistados. É uma comunidade vibrante, que valoriza seus empreendedores e reconhece a importância da economia de proximidade. Quando o comércio local cresce, toda a região se beneficia, com mais empregos e maior circulação de renda – afirma Maria Elizabeth.
Datas comemorativas seguem como termômetro do varejo
Ao longo de 2025, as principais datas comemorativas mantiveram sua relevância para o desempenho do comércio, ainda que com mudanças no perfil do consumidor. O Dia das Mães apresentou ticket médio estimado em R$ 164,19, com gasto total médio de aproximadamente R$ 249,57 por consumidor. Já no Dia dos Pais, o valor médio por presente ficou em R$ 162,04, indicando estabilidade no padrão de consumo entre as duas datas.
O Natal, no entanto, voltou a se consolidar como o principal período do varejo local, tanto em volume de consumidores quanto em valor por compra. Além do aumento do ticket médio, a CDL identificou crescimento no percentual de pessoas dispostas a gastar acima de R$ 300 por presente, o que amplia o potencial de faturamento por venda e sinaliza um consumidor mais disposto a investir em produtos de maior valor agregado.
Primeiro semestre lento e recuperação na segunda metade do ano
Para o presidente do Sindilojas Santa Maria, Ademir José da Costa, embora as datas comemorativas sigam importantes, o consumidor já não responde da mesma forma às campanhas concentradas apenas nesses períodos. Ele avalia que há menos compras por impulso e mais planejamento ao longo do ano, o que exige dos lojistas estratégias mais consistentes e menos dependentes de picos sazonais.
Na avaliação do Sindilojas, 2025 teve um comportamento desigual ao longo dos meses. Ademir José da Costa relata que o primeiro semestre foi marcado por vendas fracas e incertezas, enquanto o segundo semestre apresentou melhora significativa. A estimativa da entidade é de que o comércio de Santa Maria registre crescimento entre 4% e 5% em relação a 2024.
O dirigente pondera que a comparação com o ano anterior também favorece o resultado de 2025. Em 2024, o comércio foi impactado diretamente pelas enchentes que atingiram o Estado e parte da região, o que comprometeu a logística, a renda e o consumo em diversos municípios. Em 2025, apesar de dificuldades como estiagens e problemas de infraestrutura, especialmente na BR-287, o cenário foi mais estável.
Já a CDL observa que o bom desempenho do comércio santa-mariense também está relacionado às características estruturais da cidade. Santa Maria funciona como polo regional de serviços, educação e saúde, atraindo consumidores de dezenas de municípios da Região Central. A presença de universidades, serviços médicos e um comércio diversificado contribui para manter o fluxo constante de pessoas e fortalecer o varejo local.
Comércio físico resiste e se adapta ao digital
Outro ponto de convergência entre CDL e Sindilojas é a constatação de que o comércio físico segue forte em Santa Maria, mas precisa se adaptar às novas exigências do consumidor. As pesquisas da CDL indicam que a maioria das compras ainda ocorre nas lojas físicas, muito em função do atendimento e da confiança no comércio local.
Ao mesmo tempo, o Sindilojas destaca que a concorrência com o comércio eletrônico exige mudanças profundas na gestão das lojas. Ademir José da Costa avalia que o consumidor atual pesquisa preços, compara produtos e busca especialização. Segundo ele, o modelo de lojas generalistas perde espaço para estabelecimentos nichados, que oferecem variedade, informação e experiência de compra mais qualificada.
O dirigente também chama atenção para as diferenças de custo entre o comércio físico e o e-commerce, como carga tributária, aluguel e manutenção de lojas, fatores que dificultam a concorrência direta. Ainda assim, ele defende que os lojistas precisam estar presentes no ambiente digital, seja por meio de redes sociais, marketplaces ou plataformas próprias, como forma de complementar o atendimento presencial.
Expectativas para 2026
Ao projetar o futuro, as duas entidades demonstram cautela, mas mantêm expectativas positivas para 2026. Para a presidente da CDL, o desempenho do comércio está diretamente ligado à recuperação do agronegócio, que nos últimos anos enfrentou estiagens e enchentes sucessivas. Ela avalia que uma safra mais produtiva tende a refletir em mais renda, mais empregos e maior circulação de dinheiro no comércio e nos serviços.
O Sindilojas também aposta em um cenário de crescimento moderado, ainda que reconheça desafios adicionais em um ano eleitoral. Ademir José da Costa afirma que a entidade seguirá focada em apoiar os lojistas, estimular a profissionalização do setor e buscar soluções para aumentar a competitividade do comércio local.
O balanço de 2025, portanto, aponta para um varejo que resistiu às adversidades, amadureceu suas estratégias e passou a lidar com um consumidor mais exigente e consciente. Entre crescimento no ticket médio, fortalecimento do comércio físico e necessidade de adaptação ao digital, o comércio de Santa Maria encerra o ano com sinais de solidez e perspectivas de evolução gradual para os próximos ciclos econômicos.